Vida em um pouquinho de terra
Pegue um punhado de terra. Olhando-o, pode ocorrer-lhe que se trata de algo muito simples, de onde, como todos sabem, brotam os vegetais e as plantas. Mas a realidade é outra, não a que vemos a olho nu, o solo é uma estrutura muito complicada, na qual se processam mudanças contínuas.
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Imagem de congerdesign por Pixabay |
VAMOS DESCOBRIR...

Examinando minuciosamente um pouco desse material, pode-se ver que, além de raízes, água, ar e outros gases, contém numerosos seres vivos, em ininterrupta atividade. Esse processo interminável e silencioso é que possibilita a vida na face da Terra. A vida dos animais e vegetais, a vida do homem, dependem de solo produtivo que, em média, cobre a crosta terrestre. Abaixo dessa camada fértil, onde não chegam a luz, a umidade e o calor, o subsolo permanece tão estéril quanto a rocha, mesmo que se tente regá-lo e adubá-lo.
Somente quando revolvidas e passadas à superfície, as camadas mais profundas podem produzir e, ainda assim, é preciso que transcorra certo tempo para que as bactérias, fungos, minhocas e insetos façam seu trabalho fertilizador.
Por que isso? Porque esses trinta centímetros de terra são justamente a parte que contém húmus — o fator mais importante para a fertilidade do solo. Graças a ele, essa camada é capaz de produzir vegetais para a alimentação do homem, o húmus pode ser definido como matéria orgânica que foi sendo decomposta com o passar do tempo. Tem cor escura, de marrom até quase preto. Quimicamente complexo, dele só se conhecem alguns componentes. Contém parte do fósforo e do enxofre e quase todo o nitrogênio do solo. Além dessas substâncias inorgânicas, está cheio de bactérias e outros microrganismos.
O SOLO E A CIÊNCIA
Embora já nos primórdios do século XVII os cientistas julgassem que o solo continha o "suco particular" que as plantas retiravam, e se chegasse, no século XVIII, a acreditar que o húmus continha o "principio da vegetação", só no século XIX surgiu, efetivamente, o estudo científico do solo, a partir da descoberta dos princípios fundamentais de outras ciências como a química, a física, etc.
Em 1886, um grupo de cientistas russos, sob a orientação de V. V. Dokuchaev, constatou que havia diferentes tipos de solo, com estratos ou camadas distintas. Concluiu-se então que a forma de disposição das camadas era determinada pelo clima, vegetação, topografia, idade e estrutura geológica. Dokuchaev propôs então a classificação do solo como elemento em si, e independente de outros fatores. Por muitos anos, essa classificação ficou desconhecida fora da Rússia, até que foi traduzida para o alemão, em 1914, a obra "Os Grandes Grupos de Solos do Mundo e seu Desenvolvimento", de outro cientista russo que a aplicara, Konstantin Dmitrievich Glinka.
Em 1927 o livro foi traduzido também para o inglês. Hoje, o estudo do solo obedece a duas diretrizes principais: uma estuda a relação solo-planta e procura conhecer a sua produtividade e os meios de melhorá-la; a outra estuda sua origem e características, para atender a fins geológicos e de engenharia.
COMO SE FORMA O SOLO?
A) O solo forma-se pela desintegração física das rochas seguida de processos químicos e do enriquecimento em matéria orgânica, determinada pela ação de organismos animais e vegetais em seu interior e superfície.
B) rocha original com o tempo se desintegra em conseqüência de resfriamentos e aquecimentos alternados que produzem rachaduras e esfoliações, por onde penetra a água. Pela ação desta e do oxigênio, ácido carbônico, e de sais minerais e orgânicos, iniciam-se modificações de natureza química. Forma-se, então, uma vasta quantidade de pedregulhos, areia, minúsculos fragmentos de rocha, lama, argila.
C) Bactérias e outros organismos vegetais e animais, carregados pelo ar e pelas águas, acumulam-se em meio aos pequenos fragmentos de rocha, e iniciam o trabalho de transformar as substâncias minerais, surgindo as primeiras substâncias orgânicas.
EROSÃO, UM PROBLEMA
As águas de chuva que não penetram na terra correm pela superfície, levando partículas soltas para lugares mais baixos; assim, escavam o solo, sobretudo se ele não é fixado por vegetais. A terra vai-se gastando; a camada de solo fica cada vez mais delgada, podendo até desaparecer.
O vento também causa erosão; em muitas regiões, ergue nuvens de argila e areia, que são depositadas muitos quilômetros adiante. A própria gravidade é um fator de erosão: uma pequena pedra que se desprenda no alto de um morro leva consigo algumas outras, deixando a terra nua e sem vida. O homem às vezes colabora no fenômeno, facilitando o trabalho dos agentes naturais: tratando inadequadamente a terra, pode inutilizá-la, o que ocorreu, por exemplo, na outrora fértil Palestina. Mas há vários meios de controlar a erosão.
O SOLO VIVE
Uma vasta fauna vive dentro do solo. Até mamíferos relativamente grandes corno as toupeiras e os musaranhos ali se encontram, em galerias por eles mesmos abertas; há também minhocas, moluscos e insetos (coleópteros e suas larvas, grilos, formigas). Os mais numerosos, porém, são protozoários das mais diferentes variedades, invisíveis a olho nu. A flora microscópica é também muito numerosa. Composta de fungos (cogumelos), algas, bactérias, ela é a principal responsável pelo cheiro da terra. A atividade biológica e o metabolismo de todos esses seres é que produzem o material que as plantas retiram do solo.
Acompanhe agora na ilustração abaixo alguns aspectos da intensa atividade vital que se passa sob nossos pés:
1 - Bactérias de ferro. Elas absorvem o ferro do solo e o assimilam, depositando-o depois, em forma de compostos, na parede externa da única célula de seu corpo; esses compostos são direta ou indiretamente absorvidos pelas plantas.
2 - A terra "respira". Há bactérias que "queimam" o carbono orgânico com o oxigênio atmosférico que circula no solo — produzindo gás carbônico e calor. Essa "respiração" produz ainda a energia necessária para que algumas bactérias nitrogenadas 3 transformem o nitrogênio do ar em compostos orgânicos nitrogenados, Que, por sua vez, são assimiláveis pelas plantas.
4 - As bactérias decompõem os restos orgânicos (animais mortos e restos de vegetais) e os transformam em húmus. Neste ponto, outras bactérias extraem dele o amoníaco. 5 Mas as plantas não são capazes de absorver amônia; por isso, novo grupo de bactérias intervém 6, transformando-o em nitritos, e ainda outro grupo faz dele nitratos 7, os quais são, enfim, absorvidos. O nitrogênio de tais compostos serve para as plantas fabricarem proteínas.
8 - Quando a planta morre, bactérias desnitrificantes entram em ação, devolvendo atmosfera parte do nitrogênio existente no vegetal. Ali, outras bactérias absorvem a substância e o ciclo recomeça.
9 - As minhocas engolem a terra, nas camadas mais profundas, trituram-ma e extraem dela o alimento de que precisam; depois, depositam os resíduos na superfície. Graças a esses animais, a terra é constantemente remexida, esmiuçada, enriquecendo-se de substâncias úteis, tornando-se mais apta ao cultivo.
10 - Minhocas e outros bichinhos cavam túneis que permitem a passagem de água e ar; quando eles morrem, as bactérias se alimentam de seus restos, a partir dos quais produzem amoníaco.
11- Bactérias transformam fosfato de cálcio num composto solúvel e assimilável pelas plantas.
12 - Sem microrganismos, o solo não é fértil.
A TERRA É UMA GRANDE MISTURA
Sumariamente, são estes os elementos existentes num solo fértil:
SUBSTÂNCIAS MINERAIS - sílica e derivados; carbonatos de cálcio e magnésio; fosfatos de ferro e cálcio; sulfatos de cálcio; cloretos de sódio, potássio e cálcio; óxido e hidratos de ferro e alumínio, ar e água.
SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS - resultantes da decomposição, no interior da terra, de restos animais e vegetais.
HÚMUS - derivado da transformação de proteínas e gorduras, açúcares, amidos e celulose contidos nos detritos orgânicos e constituídos por substâncias várias, formadas de carbono, oxigênio, hidrogênio, enxofre e fósforo.
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