Quais são os tipos de barragens de rejeito?
Infelizmente
novamente Minas Gerais está sendo levada pela Lama. Mais vítimas a cada dia aparecem
em Brumadinho. Mariana pode ter sido a primeira, mas não era a última...
Foto: Cleverson Felix. |
✅ Canal no Youtube | Inscreva-se AGORA ✅

Segundo uma especialista, Fernanda
Gouveia, coordenadora do Laboratório de Engenharia Civil (LEC) e professora do
mestrado em Engenharia de Barragens da Universidade Federal do Pará (UFPA), descreve
as funções dessas estruturas: “As barragens são utilizadas para o abastecimento
de água para consumo humano e de animais; para a irrigação, a recreação e o
paisagismo; para o controle da qualidade da água e de enchentes; para a
garantia mínima de vazão a jusante; navegação; aquicultura; geração de energia
elétrica; e contenção de rejeitos”.
OS TIPOS DE BARRAGENS DE REJEITOS
De acordo com a especialista em
barragens Fernanda Gouveia, a tipologia da barragem é definida em função de sua
forma construtiva e do material utilizado em seu corpo principal. Conheça cada
uma delas:
- Barragem
de terra: é a mais comum no Brasil, caracterizada por
vales muito largos e ombreiras suaves. Pode ser de terra homogênea, construída
com apenas um tipo de material; ou de terra zoneada, aquela que, por falta de
área de empréstimo com material argiloso suficiente para a construção de todo o
aterro, prioriza o núcleo argiloso, no centro. Por ser uma estrutura menos rígida,
permite fundações mais deformáveis, transmitindo esforços baixos para as
fundações de qualquer tipo de solo ou rocha.
- Barragem
de enrocamento com face de concreto: é constituída de
enrocamentos e placas de concreto sobre o talude de montante. Deve ser dada
atenção especial à ligação entre as placas de concreto, pois se apoiam em meio
deformável, constituído pela camada de enrocamento que pode sofrer recalques
significativos no primeiro enchimento. Exige atenção também com a ligação entre
a face de concreto e a fundação para garantir a estanqueidade dessa região.
Vantagens:
construção mais rápida, pois independe do clima; taludes mais íngremes,
proporcionando menores volumes de material e maior altura da estrutura.
Desvantagem:
a fundação deve ser em rocha sã, pois a estrutura não pode sofrer recalques
excessivos.
- Barragem
de contraforte: é um tipo raramente utilizado no
Brasil e em queda no exterior, em favor dos tipos de gravidade aliviados.
- Barragem
de gravidade aliviada: é alternativa à barragem de gravidade
maciça. Nesta última, o concreto está mal aproveitado porque as solicitações
são muito menores que a resistência do concreto. Na comparação, constata-se que
a barragem de gravidade aliviada traz economia no volume e diminuição das áreas
sobre as quais pode agir a subpressão e a pressão intersticial.
- Barragem
de concreto estrutural com contrafortes: é formada por uma
laje impermeável a montante, apoiada em contrafortes verticais, exercendo
compressão na fundação, maior do que na barragem de gravidade. A fundação,
neste caso, deve ser rocha com elevada rigidez. Se comparada com as barragens
de gravidade, as principais vantagens são menor volume e menor subpressão na
base. No entanto, as barragens com contrafortes exigem um projeto estrutural mais
complexo e o uso de um número maior de fôrmas na execução dos contrafortes.
- Barragens em arco: são particularmente apropriadas para vales estreitos e com boas condições de ombreiras. Essas estruturas tiram partido das propriedades de compressão do concreto, transmitindo os empuxos hidráulicos para as ombreiras.
Vantagens:
uso de menor quantidade de concreto em comparação com as demais; admitem
fundações de pior qualidade em relação às barragens em contrafortes, porque uma
menor parte da carga é efetivamente transferida para a fundação.
Desvantagens:
exigem boas condições e ombreiras (geralmente em rocha), e a concretagem do
arco requer tecnologia mais sofisticada de locação, fôrma, armação e aplicação.
AS ESTRUTURAS DE UMA BARRAGEM DE REJEITOS
As barragens podem ser constituídas de
diversas estruturas funcionais necessárias para a sua estabilidade,
funcionamento e manutenção:
1 - Barramento;
2 - Crista;
3 - Borda Livre;
4 - Taludes de montante e jusante;
5- Ombreira ou encontros;
6 - Fundação;
7 - Drenagem interna;
8 - Vertedouro ou extravaso;
9 - Compostas;
10 - Canal de descarga;
11 - Dissipador de energia;
12 - Tomada d'água;
13 - Casa de força.
Desafios para se projetar e construir uma barragem de rejeitos
Para se projetar e construir
barragens, são necessários profissionais bastante qualificados, com experiência
e maturidade. “Esse é o primeiro grande desafio do empreendimento”, segundo a
especialista. O ideal é a formação em nível de pós-graduação, cursos ainda
raros no país diante do volume de obras. O campus de Tucuruí, da UFPA, por meio
do Núcleo de Desenvolvimento Amazônico em Engenharia (NDAE) abriu, no início de
2016, o curso de mestrado profissionalizante de Engenharia de Barragens e
Gestão Ambiental.
A segurança e a fiscalização das barragens são o segundo grande desafio enfrentado pelo setor. Basta dizer que o último dado gerado pelo Relatório de Segurança de Barragens (RSB), emitido pela Agência Nacional de Águas (ANA), revela que apenas 3% das barragens cadastradas no sistema foram, de fato, vistoriadas. “Isso demonstra o tamanho do desafio”, ressalta Gouveia, lembrando que, segundo a agência, o Brasil tem 166 empreendimentos na sua área de atuação.
A Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL) aponta 642, enquanto o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)
fala em 663 barragens. A fiscalização é extremamente importante para o
cumprimento da Lei Nº 12.334/2010, que estabeleceu a Política Nacional de
Segurança de Barragens (PNSB).
Porém, o número de técnicos é
insuficiente, além da falta de capacitação dos técnicos na execução do serviço.
“Ficou perceptível a fragilidade do sistema quando assistimos ao trágico
acidente que ocorreu em Mariana (MG), com a barragem de Fundão. Hoje está claro
que investir em segurança não é opção e sim prioridade”, conclui a
especialista.
E com a tragédia em massa que ocorreu
em Brumadinho, a situação piora a cada dia mais. Vidas estão sendo levadas, o
meio ambiente está sendo devastado e demorara para se recuperar.
O que nos resta é orar pelas famílias
das vítimas, e pressionar as autoridades competentes para que os responsáveis
sejam punidos com todo o rigor da lei.
Referência
Site: aecweb.com.br
Comentários
Postar um comentário